“Vem pra Rua!” Democracia 2.0! Com o povo e para o povo!
Estamos
assistindo a um movimento de indignação generalizada, vimos nos últimos dias
uma mobilização jamais imaginada em se tratando de Brasil, onde nossos legisladores
e representantes do poder executivo mantinham-se tranquilos, pois tinham a certeza
de que os brasileiros, de um modo geral, não se interessavam pela participação
efetiva, real, na política e nas arenas deliberativas[1]. Política
nunca foi um assunto popular entre os brasileiros como o futebol, era algo distante,
de interesse dos intelectuais ou dos que se dedicam a ela. No imaginário
popular, pairava no ar a ideia de que a política não era um assunto do dia a
dia, que dissesse respeito ao cidadão comum, muitos acreditavam que o poder
daqueles que elegemos era irrevogável e inalienável, esquecemos até que os
direitos básicos do cidadão devem ser garantidos pelo Estado.
O despertar
veio com os vários escândalos de corrupção e a impunidade, com a votação
famigerada PEC 37, que extinguirá os poderes investigativos dos promotores do
ministério público, encarregando a responsabilidade da investigação
inteiramente à Polícia Federal. Temos assistido a importantes transformações na
sociedade, que têm colocado em evidencia formas de luta, organização de
categorias, grupos e classes sociais, e resultado em revisões acerca de
projetos sociais e políticos. Muito se tem falado sobre a crise do trabalho, a
crise econômica mundial, da sociedade salarial, do movimento sindical no
contexto da globalização e da hegemonia do pensamento neoliberal. Alguns alvos
vêm sendo apontados e discutidos por muitos, dentre eles o “enxugamento do
estado” a desregulamentação dos mercados, a internacionalização econômica, a
precarização crescente das relações de trabalho e o desemprego estrutural. Ao
que tudo indica, estaríamos muito próximos do fim da “sociedade de direitos”,
ao menos onde esta existiu de fato. Vimos nossa saúde sucateada, a farra
realizada com o dinheiro público, mandos e desmandos, o caos na educação e
ficamos inertes, envolvidos com o festival de redução de IPI, financiamentos
fáceis etc. criando uma falsa impressão de que tudo ia muito bem...
Agora acordamos!
As manifestações não irão cessar, estamos presenciando um Impeachment moral, a
mídia e os representantes do poder executivo perguntam pelas lideranças, quem
seriam esses líderes? Os protestos não são movimentos puramente isolados,
unificados ou badernas, como parte da imprensa brasileira afirma.
Esse
movimento não possuí líderes, os líderes são todos os cidadãos brasileiros
inconformados, cansados, insatisfeitos... Cartazes com os dizeres “Menos eu e
mais nós” foram exibidos por todo país, ou então com os dizeres “Desculpe o
transtorno, estamos trabalhando para mudar o Brasil”. Em Atenas, a Ágora era a
praça onde se expressavam as opiniões, discutiam a pólis, a nossa ágora pode
ser o Twitter ou o facebook.com, mas essa “praça” não termina aí, nas redes sociais,
ela possuí muitas outras extensões, ela se une e se complementa com a presença
pública, a variedade de formas de comunicação, de possibilidades de manifestar
o descontentamento dentro e fora das ruas.
“Se faz tudo
pelo povo, mas sem o povo” (lema do velho despotismo esclarecido[2])
Cansamos disso! A democracia que constituímos é um fiel reflexo da sociedade em
que vivemos, está atrelada ao contexto histórico e social, a voz dos cidadãos
deveria estar expressa por um sistema de representantes que a transmitisse em
cada âmbito, aos círculos de poder. Os cidadãos desinformados e propositalmente
alienados possuíam poucos meios para expressar sua vontade, além do voto a cada
4 anos, e por incrível que pareça em muitas regiões o voto de cabresto ainda é
uma realidade, mas esse fato vem se transformando
Antes do
advento da internet e da democratização do acesso a mesma, antes das redes
sociais da era da informação, a produção da informação estava reservada aos que
detinham o controle dos meios de comunicação. A democracia representativa
ofendeu-se! Basta! Pois os políticos já não representam os cidadãos e os
cidadãos exigem redefinir a democracia para adaptá-la a uma nova sociedade, que
mudou, que acordou, na qual todos podem se expressar, como me expresso agora,
livremente! e se organizar da melhor forma possível, clamamos pela reforma
política! - manifestações que não são
organizadas por partidos ou sindicatos e sim pelos próprios indivíduos espalham-se
e não param de crescer, só no Rio de Janeiro foram às ruas mais de um milhão de
pessoas, antes seguíamos líderes, indivíduos, agora seguimos ideias, ideais e a
verdade. Com a ajuda das tecnologias digitais de comunicação a capacidade de
mobilizar rapidamente pessoas de diferentes localidades foi viabilizada.
“Acabou a
orientação habitual para o conformismo” A soberania popular é a base da
democracia, mas a soberania só se torna efetiva com a representação pelo voto e
é fato não nos sentirmos mais representados por aqueles a quem demos tal honra,
a democracia é fruto da luta por direitos, no cerne de relações sociais,
moldadas pelas lutas, não existiu e nunca será possível existir revolução e
reforma sem algum transtorno, a mídia foca no vandalismo e não admite que
muitos dos prédios depredados representam a opressão, a corrupção tudo o que
nos oprime, indigna e impede de termos atendidos nossos anseios, não menciona a
truculência da ação policial, o abuso da autoridade que lhes foi conferida; a
mando de quem?
Lutamos pela
implementação da educação de qualidade, pela valorização dos profissionais da
educação, a politização, e não a politicagem, a conscientização de classe,
política, social, a autovalorização das comunidades e principalmente, condições
dignas de sobrevivência, para que não possamos ser comprados diante da
necessidade, para que não sejamos presas fáceis para aproveitadores que se dizem
representantes de nossos interesses, para que não precisemos mais de esmolas. Mas a questão é: Quais movimentos representam
verdadeiramente os interesses de classe? Quais de nossos representantes nas
câmaras, no senado são honestos? Que organizações não estão mal intencionadas?
Com quem podemos contar?
É isso! Ficou
claro! Precisamos nos unir! Sociedade civil! Povo brasileiro!
É hora de
darmos um basta, de darmos as mãos,esquecermos os interesses individuais, devemos
ponderar se o que nos propõe está de acordo com as nossas reais necessidades,
se iremos nos beneficiar de verdade, devemos reagir contra a opressão, contra a
corrupção, o nepotismo, a precariedade
nos serviços públicos, a precariedade nos transportes, contra a manipulação da
informação que estamos presenciando neste momento histórico para nosso país! Junho de 2013 constará nos livros
de história! Olhamos-nos no espelho e descobrimos
o verdadeiro culpado! Despertamos! Avante povo brasileiro!
[1] Arenas deliberativas, frequentemente são apontadas como
forma de ampliação da participação e, assim, da representação de grupos
marginalizados, trazem novas informações aos indivíduos e novas perspectivas
sobre determinado tema, levando-os a debater e refletir acerca de suas
posições. Desta forma, criam-se espaços de interação social que legitimam a
tomada de decisões, tornam menos rígidas as fronteiras entre o público e o
privado. Arenas deliberativas estabelecidas para a solução coordenada de
problemas agregam pessoas com diferentes identidades sociais, mas que
compartilham preocupações concretas e operam sob considerável incerteza sobre
as formas pelas quais os problemas podem ser enfrentados, essa incerteza, a
pressão pela descoberta de uma estratégia de solução comum, e o foco
disciplinador dos próprios problemas vão se combinar, de formas saudáveis, para
criar laços que se assemelham mais a solidariedades de cidadania do que às
estreitas identidades de grupo associadas com a política de facções ou grupos.
[2] O despotismo esclarecido (ou ilustrado, ou ainda
absolutismo ilustrado) é uma expressão que designa uma forma de governar
característica da Europa continental da segunda metade do século XVIII, que
embora partilhasse com o absolutismo a exaltação do Estado e do poder do
soberano, era animada pelos ideais de progresso, reforma e filantropia do
Iluminismo. Ou seja, havia, por um lado, uma ruptura parcial com a tradição
Medieval, mas, por outro, não eram acolhidas todas as ideias do Iluminismo 1 ,
com a definição entre a combinação desses diferentes ideais e a sua concretização
pertencendo ao próprio déspota. A expressão "despotismo esclarecido"
não foi contemporânea aos acontecimentos, tendo sido forjada mais tarde pelos
pesquisadores.