Agência Rio de Notícias

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Entre memória e história

ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA – A PROBLEMÁTICA DOS LUGARES – PIERRE NORA – PROJETO HISTÓRIA, SÃO PAULO 1993.ALGUNS TRECHOS.


· Aceleração da história – (...) a expressão significa: uma oscilação cada vez mais rápida de um passado definitivamente morto, a percepção global de qualquer coisa como desaparecida – uma ruptura de equilíbrio. O arrancar do que ainda sobrou de vívido no calor da tradição, no mutismo do costume, na repetição do ancestral sob o impulso de um sentimento histórico profundo.A ascensão à consciência de si mesmo sob o signo do terminado, o fim de alguma coisa desde sempre começada.Fala-se tanto de memória porque ela não existe mais.
· (...) a curiosidade pelos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia está ligada a este momento particular da nossa história.(...)
· (...) o momento de articulação onde a ruptura com o passado se confunde com o sentimento de uma memória esfacelada, mas onde o esfacelamento desperta ainda memória suficiente para que se possa colocar o problema de sua encarnação. O sentimento de continuidade torna-se residual aos locais. Há locais de memória porque não há mais meios de memória.(...)
· (...)Fim das ideologias memória, como todas aquelas que asseguravam a passagem regular do passado para o futuro, ou indicavam o que se deveria reter do passado para preparar o futuro: quer se trate da reação, do progresso ou mesmo da revolução. Ainda mais: é o modo mesmo da percepção histórica que, com a ajuda da mídia, dilatou-se prodigiosamente, substituindo uma memória voltada para a herança de sua própria intimidade pela película efêmera da atualidade.(...)
· (...) Aceleração : O que o fenômeno acaba de nos revelar(...) é toda a distancia entre a memória verdadeira, social, intocada, aquela cujas sociedades ditas primitivas ou arcaicas, representaram o modelo e guardaram consigo o segredo – E a história – que é o que nossas sociedades condenadas ao esquecimento fazem do passado porque levadas pela mudança(...) entre uma memória integrada, ditatorial e inconsciente de si mesma, organizadora e todo-poderosa, espontaneamente atualizadora, uma memória sem passado, que reconduz eternamente a herança, conduzindo o antigamente dos ancestrais ao tempo indiferenciado dos heróis, das origens e do mito e a nossa, que é só história, vestígio, trilha, distância que só se aprofundou à medida em que os homens foram reconhecendo como seu um poder e mesmo um dever de mudança, sobretudo a partir dos tempos modernos. Distancia que chega hoje a um ponto convulsivo.(...)

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