Agência Rio de Notícias

quinta-feira, 4 de junho de 2009

MEMÓRIAS HISTÓRICAS DO RIO DE JANEIRO – JOSÉ DE SOUZA AZEVEDO PIZARRO E ARAÚJO – IMPRENSA NACIONAL – RIO DE JANEIRO 1945 1º VOLUME.

MEMÓRIAS HISTÓRICAS DO RIO DE JANEIRO – JOSÉ DE SOUZA AZEVEDO PIZARRO E ARAÚJO – IMPRENSA NACIONAL – RIO DE JANEIRO 1945 1º VOLUME.

NOTAS SOBRE O AUTOR –

José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo nasceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1753 em 12 de outubro, terminou seus estudos na faculdade de Coimbra, onde bacharelou-se em cânones, recebeu o presbiterato ao retornar a cidade do Rio de Janeiro no ano de 1780. no ano de 1801 embarcou para Portugal onde em recompensa aos serviços prestados a coroa por seu pai, o coronel Luiz Manuel Carneiro da Cunha recebeu do príncipe regente D. João a mercê (honraria, pagamento, preço ou recompensa de trabalho) do hábito da ordem de Cristo em que professou e a “conezia” da Santa Igreja Patriarcal.
Ao retornar ao Brasil juntamente com a corte portuguesa, “monsenhor Pizarro” exerceu as mais altas funções civis e eclesiásticas, foi conselheiro de D. João VI, tesoureiro e “arcipreste” da real capela, deputado da mesa de consciência e ordens, consehleiro honorário do tribunal da justiça, procurador geral das três ordens militares, dentre outras importantes funções.
Após a independência foi deputado à primeira legislatura e presidiu a assembléia por algum tempo.Iniciou sua pesquisa no ano de 1781, cujo escopo era escrever uma história do bispado do Rio de Janeiro, pesquisou inicialmente o que havia nos arquivos eclesiásticos da cidade, onde encontrou desordem e pouquíssimas fontes.Por maior que fosse a importância, o valor desses poucos arquivos encontrados eles não eram o suficiente para que Pizarro prosseguisse com sua pesquisa e recorreu então aos arquivos civis.
Sua busca perdurou por quase quarenta anos, no decorrer de sua pesquisa acabou por encontrar documentos que nada tinham a ver com a história do Bispado do Rio de Janeiro, contudo sabendo do valor de seus “achados” não teve coragem de descartá-los, tamanha a importância histórica desses documentos e das informações contidas neles.
Pizarro acabou não escrevendo uma história do bispado do Rio de Janeiro como pretendia, produziu dez tomos grandes e de certa forma podemos dizer monótonos para aqueles que não possuem interesse na historicidade repletos de informações completamente heterogêneas não só sobre a cidade do Rio de Janeiro como também de lugares como Bahia, Pernambuco, São Paulo,Minas Gerais, Mato Grosso. Goiás, Rio Grande, “Colônia do Sacramento”, dentre outros lugares do país.
Ao ler a obra de Pizarro podemos concluir que a parte mais completa é indiscutivelmente a que se trata do Rio de Janeiro, abrangendo os sete primeiros tomos, o restante é dedica as demais regiões do Brasil.Contudo nos tomos que tratam especificamente do Rio de Janeiro há muita informação sobre outros lugares do país e nos tomos que tratam de outros lugares do país ainda podemos encontrar muita informação referente ao Rio de Janeiro.
No que se refere ao lançamento / publicação das “Memórias históricas do Rio de Janeiro” Manuel de Araújo Porto Alegre disse: “ Quando se publicavam as Memórias eu vi alguns homens de alta posição encara-las com o maior desdém...” e segundo Borba de Moraes no prefácio do primeiro volume desta obra quando não se referiam a obra com desdém era com reserva por longos anos.
Varnhagen, sempre rígido com os outros historiadores, analisando a produção histórica brasileira em sua obra “História Geral” só faz menção a obra de Pizarro, segundo ele “para não parecer omisso” e não hesitou em classificá-la como “obra confusa, difusa e até vezes obtusa”.

Porém com o tempo, nosso arquivos foram se perdendo, como bem menciona no prefácio do primeiro volume da obra de Pizarro já em 1945 Borba de Moraes, ou ela ação de animais ou insetos, ou hoje posso dizer pela ação do tempo sem cuidados necessários com armazenamento, pelo descaso, por acidentes como enchentes, incêndios dentre outros causas; o fato é que a ausência de arquivos fez com que a obra de Pizarro pudesse ser utilizada como referencial teórico de extrema valia para historiadores e pesquisadores em busca de dados e informações sobre a cidade do Rio de Janeiro imperial.
Vale a pena ressaltar que Pizarro não era historiador, era um cronista, de acordo com Borba de Moraes ele “não escreveu uma história, publicou uma coletânea de dados e documentos para serem elaborados por um historiador” e o próprio Pizarro advertiu no preâmbulo do primeiro volume de sua obra quanto ao seu objetivo de apenas “coligir subsídios que devem servir de base a quem com pena culta e destra, hábil e judiciosa, convier a composição duma história perfeita do continente brasiliense”. Tomo 1 – preâmbulo – página 19.
E como bem aponta Borba de Moraes, o tempo fez-lhe justiça, e, hoje a obra de Pizarro é indispensável para aqueles que como eu buscam estudar a funda a história da “província” do Rio de Janeiro, da cidade e de também das províncias “anexas”.

Trechos da obra:

Capítulo I página 27

“... para conseguir as descobertas além dos mares ao sul da Bahia, determinou El Rei, que se armasse uma esquadra cujo comandamento entregou, no ano de 1530, a Martim Afonso de Souza, seu conselheiro”. “...aproximou-se à sua costa, para registrar as ilhas, que povoavam o mar, e descobriu a enseada, a que os Tamoios chamavam Niterói ( cuja expressão no idioma português significa mar morto), toda circulada de horiveis penhascos, mas conhecida e, diante com o nome de Rio de Janeiro, que lhe pôs o mesmo explorador, por aportá-lo no dia 1º de Janeiro de 1531”.

Notas do Autor:

(9) página 135
“... afirmam alguns que Vespúcio fora o primeiro em 1516, entrara o porto do Rio de Janeiro; outros, que em 1519, Fernando de Magalhães e Rui Faleiro, portugueses no serviço de Carlos 1º entraram essa baía, a que deram nome de baía de Santa Luzia, por aportá-la no dia dessa santa,cujo nome trocara Souza, quando a ela chegou no dia 1º de Janeiro. A expurgação desse fato fica reservada ao historiador.”

Capítulo I página 28, 29, 30 e 31

“... desembarcou junto ao escarpado, e alto penedo, que se diz Pão de Açúcar, numa pequena praia, intitulada até certo tempo Porto de Martim Afonso, mas conhecida posteriormente por Praia Vermelha, em razão da cor que em certas estações do ano toma a areia”.
“persuadido porém que só pelas armas poderia fazer algum estabelecimento em lugar habitado, e povoado de índios valentes, belicosos, e desconfiados, aliás dotados de partes boas, e desconhecendo a fertilidade do país, esfriou no gosto de fundar aí a primeira colônia portuguesa levantando ancora, prosseguiu no costeio dos mares do sul até o famoso Rio da Prata (...) em volta do qual fundou a sua capitania de São Vicente (...)”

“... as carreiras dos armadores franceses para o Brasil, molesta sempre aos portugueses desde o princípio dos descobrimentos das índias, não serviram pouco de despertar a atenção da corte de Portugal sobre o país, que sem custo lhe poderia escapar: e como liga dos índios, com quem negociavam as sua drogas, lhes subministrava o auxílio preciso, eles se reproduziam a hostilizar os portugueses habitantes da costa, sem algum receio dos seus recontros”.

“Senhores dos Tamoios de todo continente, desde o Rio Paraíba do sul junto ao cabo de São Tomé (...) até a Vila de Parati, (...) nada melhor desejavam, que a proteção dos franceses no empenho de impedir o assento dos portugueses em São Vicente. A esses tempo, tendo sulcado os mares do sul Nicolau Durant de Villegaignon, francês nobre, do hábito de São João e achando-se em Cabo Frio (...) fácil lhe foi em convir com aqueles, a quem o ódio contra os declarados contrários fomentou a liga com tais hóspedes, trazidos da fortuna em socorro da sua defensa, a custo dos frutos, e, drogas da terra, que lhes prometeram. Isto bastou a uma nação, cujos intentos hidrópicos foram sempre de dilatar as extensões do domínio nas terras, tanto descobertas de novo, como nas possuídas tranqüilamente por outras potencias, e que apesar de vexames públicos, e de crueldades inauditas, não perdem passo algum no adiantamento da glória de si mesma, nem do interesse do seu comercio: e introduzindo-se os convidados por todos os rios principais, enseadas, e portos do continente, de tudo se forma apropriando sem alguma oposição”.

“... formou villegaignon, e os da sua comitiva, um estabelecimento na enseada do Rio de Janeiro, em novembro de 1555; e na ilha, a que deu nome, assentou o seu forte, esperançado de perpetuá-lo e de conseguir o dilatado senhorio das províncias brasílicas. (...) Diligente portanto na segurança da empresa, procurou igualmente conciliar a benevolência dos gentios indígenas, ensinando-lhes o modo de bem fortificar os lugares, que limitam o golfo fluminense”.

“... expediu uma armada a mendo ou Mem de Sá governador 3] da Bahia, entregando o comandamento dela ao Capitão Bartolomeu de Vasconcelos, a quem ordenou acompanha-se o mesmo governador, incumbido de lançar Vilegaignon fora do Rio de Janeiro, e de castigar os índios de maneira, que servisse de exemplo a outros, cujos intentos se dirigissem a levantar contra os portugueses”.

“... distribuídas as ordens competentes ao ataque, dirigiu-se à ilha de Villegaignon, fortificada a preceito, e sem obstar o fogo excessivo que sobre as nossas embarcações dali faziam os contrários, no dia 15 de março ganhou Sá a terra onde, assentada grosssa artihlaria, com os seus tiros bateu o forte por dois dias, e duas noites contínuas”.

Capítulo I página 36,37, 38 e 39

“...como as guerras contínuas dos índios no continente impediam que se povoasse o lugar, cuja a vista jamais perdiam os inimigos do estado, prosseguindo nas suas negociações e boa união com os mesmo índios, tornaram eles a apossar-se da enseada, fazendo novos estabelecimentos, e adiantando as fortificações, quanto foi possível, para perseguirem os portugueses com toda segurança.informada a regente do Reino de fatos tão críticos, pôs o maior cuidado na defesa da terra do Rio, procurando segunda vez impedir o pregresso dos inimigos por dois galeões guarnecidos de artilharia, e soldados, o comandamento de Estácio de Sá, autorizado para a empresa premeditada com patente de Capitão Mor, com a qual ficaria governando o mesmo território”.

“...com ordem de seguir as instruções de Mem de Sá, seu tio, ali as recebeu: ir em demanda da barra do Rio de Janeiro, de cuja enseada, desalojando o inimigo já situado, procuraria fazer-se senhor, para fundar uma povoação nova com a gente portuguesa que levava, e , nos passos mais consideráveis formar praças pequenas bem fortificadas, e capazes de resistir a outras invasões semelhantes”.

“...corriam os dias de fevereiro do ano de 1565, quando surgiu no lugar destinado: mas ciente da guerra entre os Tamoios, e os povoadores novos por terem uns e outros alterado as pazes, e das hostilidades que sofriam os moradores de São Vicente; tomou a deliberação de prosseguir a viagem para observar a Costa, e seus portos, e socorrer também os portugueses oprimidos”.

“... andavam os dias de janeiro da era 1566; e desaferrando a armada do porto Buriquioca no vigésimo do mês, surgiu no princípio de março junto a barra do Rio de Janeiro, que entrou.Não perdendo tempo mandou o capitão Mor desembarcar a infantaria; e no lugar junto ao alto penedo, conhecido por Pão de Açúcar que pareceu mais acomodado, começou a fortificar-se com trincheiras, e fossos. A desigualdade entre a multidão de inimigos Tamoios, que ousados em acometer, sagazes nas ciladas, e no arco destríssimos, cobriam os mares, e as praias em canoas, além de volantes, guerreiras, e as forças portuguesas mui diminutas, fazia menos valorosos os soldados, e fraquíssima a esperança da vitória:”.

Após Discurso religioso enaltecendo os portugueses e os padres jesuítas sobre o proferimento de um discurso que levantou o moral dos pouquíssimos soldados portugueses e os fez vencer mesmo em desvantagem...



Capítulo I páginas 41,42,43, 44

“...o heroísmo, que nos ânimos dos guerreiros produziu a energia da fala transcrita, mostraram os acontecimentos posteriores, a custo das vidas, e das canoas dos índios, cujo poder tanto se aumentava pela defesa da pátria, a que crescia a vingança, quando excedia as suas mesmas forças nos assaltos quase diários.o corpo dos portugueses cheio de valor, e de arrojo destemidos tendo na frente o capitão, atacou três poderosas e bem artihladas naus inimigas, e cento e trinta canoas, que apresentando-lhe batalha, forma derrotadas à vista do arraial, destruiu a cilada urdida no dia 15 de outubro, sendo assas diminuto o numero de canoas a par das dos contrários: e foi vitorioso noutras ações repetidas, que por todo aquele ano se seguiram.aplicadas as forças contras as aldeias, e expedidos os piquetes de soldados aventureiros para os lugares fortemente defendidos pela indiada, tudo ficou arruinado; e os índios que mais resistiram ao ferro, e ao fogo, pagaram o valor com a vida”.

“...Mem Sá...deu-se de novo á vela em novembro de 1566, levando consigo suficiente número de naus, e doutras embarcações pequenas,assas providas de munições, soldados e de voluntários, a que acompanharam, a quem se uniu o Bispo Pedro Leitão, como pastor cuidadoso de tantas ovelhas expostas a perigos evidentes, cujo animo não cessou de exortar com excessiva eficácia”.

“A presença da armada felizmente chegada no dia 18 de janeiro de 1567, reanimou a guerreira soldadesca, quase desfalecida pela falta de socorros assim de guerra, haviam perto de dois anos, como de mantimentos, em sítio tão incomodo; e informado o governador do estado da guerra, e de seus progressos, mandou atacar as aldeias mais fortes dos inimigos, por desejar, que o princípio desse juntamente fim a batalha. O dia 20 seguinte, dedicado pela santa igreja à memória solene do seu grande Mártir, e santo Sebastião, a cujo patrocínio estava o vencimento, foi o da execução a ferro e fogo,sobre o Uruçumiri, uma das aldeias mais difíceis pelo sítio, sua fortificação e também auxiliada por soldados seus aliados, os quais, juntos com os da aldeia, sem lhes aproveitar a resitência, pagaram a intrepidez, ficando mortos no campo”.

“Uma flecha disparada do arco de um dos contrários, atravessou infelizmente o rosto de Estácio de Sá”

“...desenganados os Tamoios do valor, e poder dos portugueses, principiaram a desconfiar dos amigos aliados, que mais por negócio, e com projeto de domínio, que a título simples de proteção (...) ocupavam o território onze anos antes. Então menos fiéis, e mais medrosos, seguindo os exemplos de outros semelhantes pediram pazes”.



Capítulo II páginas 52,53,54,55,56

A cidade já estava sob o comando de Salvador Correia de Sá ocupando um posto semelhante ao de Estácio de Sá (Capitão Mor)

“... Avistados os vasos de guerra que conduziam a este porto s nosso inimigos Franceses, fizeram os moradores de Cabo Frio avisos repetidos ao governador Francisco Castro de Morais, que mandado preparar as fortalezas e a marinha, preveniu as milícias para qualquer ação de combate.Poucos dias depois se repetiam as notícias por sinais da fortaleza da barra, e ultimamente pelos moradores de Guaratiba, onde os mesmos inimigos desembarcaram, procurando dali o caminho da cidade, que um preto, apreendido à traição lhes mostrou”.

“Ciente o governador dos movimentos de DuClerc, capitão daquele corpo, muito a tempo tolheria os seus progressos, se pelos exploradores dos caminhos, dirigidos unicamente a testemunhar a marcha do exercito, determinasse algum recontro: mas parecendo-lhe que bastariam só as suas disposições a impedir o inimigo, mandou tocar a rebate, e formado no campo da Cidade com o corpo militar que a guarnecia, ali se preparou airosamente para receber e começar o combate, sem que as instancias de muitos oficiais de honra, e de valor, e de paisanos patriotas, jamais o movessem a adiantar o passo para se arrostar aos contrários”.

“Avisado no dia dezoito do mês de setembro da marcha seguida dos inimigos até o engenho velho, onde pernoitaram, nem inda em sitio tão próximo se deliberou a procura-los.como no transito não encontravam os povoadores novos do país o menor embaraço, facilmente adiantaram o caminho, e no dia seguinte aproximando-se à cidade, divisaram junta no Campo dela a nossa tropa, que sem se mover de posto, os esperava cheia de animo, e de valor, mais impaciente pela pusilanimidade de quem a comandava, para receber o combate.Divertindo porém os soldados forasteiros a direção primeira, procuraram o atalho do monte do desterro, por onde se supôs que demandavam o forte da praia vermelha, e persuadido o governador de ser real o aparente desvio, ordenou ao mestre de Campo João de Paiva que fosse a encontra-los: mas perguntando por este cabo “se havia, ou não, de pelejar” respondeu: “que ele mandava defender a fortaleza; e não obstante, fizesse, o que a ocasião lhe permitisse”.

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