Agência Rio de Notícias

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Refletindo sobre sexualidade e orientações sexuais


Entrevista

Lembrei-me de algumas questões tratadas em algumas obras de Foucault, entre elas o fato de que Podemos afirmar que a percepção do corpo como lugar para o sexo, seja considerado “normal” ou “anormal”, “licito ou ilícito”, fundou uma positividade: a do próprio corpo. Por isso Foucault procurou exteriorizar sua posição indicando as razões pelas quais o homem contemporâneo é levado sempre a ter uma “vontade de saber” sobre sexo; vontade de saber que tem nas práticas e nos discursos da “verdade” do sexo seus referentes: vontade em torno da qual uma ciência do sexo se ergueu no final do século XVIII, consolidando-se no século XIX e chegou a seu ápice com o advento da psicanálise.(Foucault, 1984).
Segundo Foucault, o sexo é visto enquanto núcleo onde se aloja a “verdade”, dos sujeitos humanos e da espécie. Ele afirma que não compreenderemos a emergência do dispositivo da sexualidade dominante em nossa época se antes não superarmos a representação que fazemos da sexualidade. Essa forma de representar a sexualidade consiste em associá-la à repressão. É comum ver-se a questão da sexualidade ocidental como um processo linear e irreversível de repressão crescente. Diz-se, então, que inicialmente havia uma certa liberdade, observada até o início do século XVII (durante este período a igreja ainda exercia imenso poder nas relações tanto comerciais como pessoais dos indivíduos) , que, devagar, foi sendo reduzida, até a ponto de silenciar a sexualidade. Silêncio levado ao seu extremo no período vitoriano, com sua moral repressiva. Foucault critica essa “hipótese repressiva”. Para ele, tanto a “hipótese repressiva” como a crítica da repressão são equivocadas, porque ambas fazem coincidir poder com repressão, supondo que se possa, através da crítica da repressão, desestabilizar as relações de poder. Ao contrário, ele vê a repressão sexual como “positiva”, como elemento inseparável da lógica produtiva do poder.
Naturalmente há um elemento “negativo” na repressão, afinal, ela subentende subordinação, sujeição, submissão. Mas para Foucault o importante é o elemento estratégico e, em função disso, afirmou que a repressão é produtiva, uma vez que, através de sua ação sobre o corpo do indivíduo, ela evita que este perceba o poder em sua forma angustiante de brutalidade e descaramento, cinismo e audácia. Ao disfarçar os mecanismos do poder, os dispositivos fazem com que o mesmo apareça como elemento distante, isolado e isolável; criam um espaço de aceitação do poder na medida em que se apresentam como puro limite traçado à liberdade. Desse modo, fazendo a genealogia da “hipótese repressiva”, e tendo mostrado como ela foi lançada e qual o papel que ela desempenhou na atualidade, Foucault acaba por mostrar que ao invés de “repressão” houve, ao contrário, a partir do século XVIII, uma verdadeira explosão discursiva em torno do sexo. Explosão que estabeleceu ao redor da temática do sexo diferentes posturas e produziu, conseqüentemente, novos saberes e novas tecnologias do poder, a que Foucault chamou de “bio-poder”. Foucault entende por “bio-poder” a tecnologia que toma o corpo como objeto de manipulação e a espécie humana como uma forma da vida biológica que deve ser compreendida a partir de sua finalidade política. 
Essa tecnologia e novos saberes organizam sobre o corpo uma compreensão, uma inteligência. O corpo é aquilo que deve estar sempre submisso e dócil, como podemos observar na obra “Vigiar e punir” . 
Guacira Lopes Louro, em seu livro O Corpo Educado:
“Muitos consideram que a sexualidade é algo que todos nós, mulheres e homens possuímos "naturalmente". Aceitando essa idéia, fica sem sentido argumentar a respeito de sua dimensão social e política ou a respeito de seu caráter construído. A sexualidade seria algo "dado" pela natureza, inerente ao ser humano. Tal concepção usualmente se ancora no corpo e na suposição de que todos vivemos nossos corpos, universalmente, da mesma forma.”
“A sexualidade, afirma Foucault, é um "dispositivo histórico" (1988). Em outras palavras, ela é uma invenção social, uma vez que se constitui, historicamente, a partir de múltiplos discursos sobre o sexo: discursos que regulam, que normatizam, que instauram saberes, que produzem "verdades". Sua definição de dispositivo sugere a direção e a abrangência de nosso olhar:“um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas (...) o dito e o não-dito são elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos (Foucault, 1993, p.244).”

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou editor do blog Ensaios e Manifestos e de passagem por aqui , gostei do teor dos textos. Gostaria de convidar o autor a conhecer a proposta e o teor do blog , assim como está convidado a nos enviar um texto de tema livre para a postagem , dentro do espírito do Blog de ser um banco de idéias , ensaios e manifestos.
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