Agência Rio de Notícias

sábado, 23 de abril de 2011

Refletindo ...

Nos parece natural pensarmos que a identidade biológica e a identidade de gênero estão diretamente relacionadas , ou seja a masculinidade no homem e a feminilidade na mulher vistas como normas, nesse sentido estabelece-se no meio sócio-cultural qual a imagem de homem e qual a imagem de mulher que se deve “aceitar”/ acatar como realidade única possível. A "categoria" Gênero, poderia ser conceituada como " uma construção cultural e social", eliminando assim a concepção acerca de gênero ligada a biologia.que “significa então que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos”.

Existem duas características implícitas na noção de gênero: “(…) o fato de o gênero só poder ser compreendido em relação a uma cultura específica, sendo capaz de ter sentidos distintos apenas a partir do contexto sociocultural em que se manifesta[1]; e, o caráter necessariamente relacional das categorias de gênero - só é possível pensar e/ou conceber o feminino em relação ao masculino e vice-versa.” O que na minha opinião nos remete a afirmativa de Butler que “o gênero não expressa uma essência interior de quem somos, mas é constituído por um ritualizado jogo de práticas que produzem o efeito de uma essência interior”.

“Há uma expectativa social em relação à maneira como devem (homens e mulheres) andar, falar, sentar, mostrar o corpo, brincar, dançar, namorar, cuidar do/a outro/a, amar etc. Conforme o gênero, são delegados modos específicos de trabalhar, (…) ensinar, dirigir o carro, despender dinheiro, (…) dentre outras atividades.”

“Desde que nascemos, somos educados/as para conviver em sociedade, porém de maneira distinta, caso sejamos menino ou menina.” Mesmo entre as crianças, ser homem e ser mulher está relacionado não apenas com a questão biológica, mas com as concepções sociais, muitas aprendidas ou “apreendidas” na família e na escola e nos demais âmbitos onde circulamos. Ser homem/mulher, menino/menina, envolve símbolos sociais , como o poder ou não realizar determinadas atividades, exercer legitimamente a sexualidade, etc. Essa concepção, está fundada em esquemas classificatórios que opõem masculino/feminino, sendo esta oposição relacionada a outras: forte/fraco; dominante/dominado. (Bourdieu).

“Os homens (…) são vistos com certa desconfiança, por representarem o papel do opressor, do perpetrador da violência e da exploração feminina. Numa perspectiva mais branda, admite-se que os homens, individualmente, possam até não ser os culpados pela opressão feminina, sendo esta atribuída a fatores de ordem mais estrutural. Entretanto os homens são geralmente considerados os grandes beneficiários ou privilegiados por desigualdades de gênero.” No entanto (…) os valores atribuídos à masculinidade, como força, autossuficiência, invencibilidade e agressividade trazem também uma série de desvantagens aos homens.”A construção de uma maior igualdade de gênero depende não apenas de uma tomada de consciência em relação à opressão feminina, mas também de uma reflexão sobre o lugar e o papel dos homens nesse processo.”

“Nem todas as sociedades dividem as pessoas em apenas duas categorias, homens ou mulheres, como acontece na cultura ocidental, formações culturais que criaram outras categorias de pessoa para classificar indivíduos que, na nossa compreensão, escapam do padrão dicotômico. Nessas sociedades, tais indivíduos não são considerados como doentes nem desviantes, (…) eles são geralmente tratados como pessoas normais ou então, em algumas situações, ocupam posições de prestígio dentro do grupo em virtude de sua especificidade corporal.

Ao falarmos em gênero, não estamos nos referindo a indivíduos abstratos, mas a homens e mulheres inseridos em contextos específicos perpassados por significados culturais que demarcam as fronteiras simbólicas do que é socialmente esperado em relação às masculinidades e às feminilidades. Significados culturais que se articulam a sistemas de significação mais amplos que, por sua vez, trazem as marcas das estruturas desiguais de poder presentes nas relações entre homens e mulheres.Nesse Sentido foi abordado na disciplina a luta das mulheres pelo direito ao voto, a educação, ao exercício pleno da cidadania, proteção à maternidade e à infância , direitos que lhe foram negados, sendo assim, a história das mulheres e das lutas feministas se confudem. Mulheres notáveis, ícones na luta pela equidade de gênero, nos enchem de orgulho hoje, pois graças a luta delas possuímos esses direitos, entretando ainda temos muito o que conquistar.

Referências

BOURDIEU, P. A dominação masculina. Tradução Maria Helen Kuhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

BUTLER, Judith & RUBIN, Gayle, “Tráfico sexual – entrevista (Gayle Rubin com Judith Butler)”, in: Cadernos Pagu (21), Campinas: Unicamp, 2003, pp. 157-209.

_____________ . “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’”. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. p. 151-172.

Carrara,Sérgio…[et al]. Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

RUBIN, Gayle. Comentário – Por Andréia Piscitelli – Núcleo de Estudos de Genero, Cadernos de Pagu, Nº 21,2003 páginas 211 - 218.


[1] arbitrariedade cultural

[2] “dimorfismo sexual (diferenciação do sexo biológico como masculino ou feminino)” “está intimamente relacionado à forma como a cultura ocidental compreende a natureza humana e as relações de gênero.”

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