Em tempos de
ciberespaço, redes sociais e aprimoramento contínuo da tecnologia, é necessário
adaptar-nos enquanto “educadores” a esse universo. Professores precisam
adequar-se ao mundo atual, atualizados, antenados e abertos a todo tipo de
informação. Para tanto venho me dedicando a encontrar filmes que despertem o
interesse, a curiosidade e prendam a atenção de meus alunos, há muito tempo
desisti de exibir em sala filmes como Germinal, Danton etc., hoje venho
buscando no estilo Blockbuster, nos campeões de bilheteria, algo que sirva para
exemplificar os temas e conceitos que preciso trabalhar em sala de aula e ao
mesmo tempo busco algo capaz de prender a atenção dessa geração.
O filme “O
preço do Amanhã – In time” é perfeito para utilização em sala de aula no ensino
médio por dois motivos: Tem um protagonista que chama a atenção das meninas e
tem ação, o que desperta o interesse dos meninos. Sem querer generalizar ou
criar estereótipos, é assim que acontece. O filme tem como protagonista Justin
Timberlake, queridinho das moças desde os tempos de N’Sync, trata das relações
entre o Capital e o Trabalho, em um mundo em que o Tempo é a moeda corrente.
Em um futuro
distante, em uma realidade alternativa, a ciência evoluiu tanto na genética que
conseguiram realizar o maior desejo dos seres humanos, a imortalidade, no
filme, ao completarem vinte e cinco anos todos sem exceção param de envelhecer
e uma espécie de relógio implantado sobre a pele começa a funcionar nessa época
da vida, e os muitos desprivilegiados, desfavorecidos, precisam trabalhar para
ganhar a vida, literalmente, e para que poucos privilegiados sejam imortais
muitos precisam morrer.
O filme conta a História de Will Sallas (Justin Timberlake), um jovem do
gueto, que vive a correr, pois como membro da classe desfavorecida dessa
sociedade fictícia ele não tem tempo a perder, precisa pagar com o seu tempo
sua moradia, alimentação, vestuário e tudo mais, logo de início esse conflito,
essa tensão é explicitada. Will Salas vive com sua mãe na área mais pobre da
cidade, trabalha muito, ganha pouco e divide o que ganha com sua mãe, neste
mundo alternativo, o dinheiro não existe mais, o que se ganha ou perde é o
tempo. Conforme citado, assim que esse relógio passa a funcionar as pessoas
possuem apenas um ano de vida a se contar, e o que se ganha de tempo vai sendo
acumulado, logo quando passa a contar o tempo normalmente as pessoas já não tem
exatamente um único ano, podendo ter mais ou menos, e se esse tempo chegar a
zero, a pessoa morre instantaneamente. No caso de Will Salas, obter tempo é
muito difícil e, pois faz parte de uma classe social que é excluída dos
processos, impedida do direito de progredir economicamente, ele precisa dividir
o que ganha com sua mãe, que logo no início do filme, ao completar seu
aniversário de cinquenta anos com aparência de vinte cinco, diga-se de
passagem, desejo da maioria das mulheres, manifesta seu desejo de ser avó e
Will a responde dizendo não ter tempo para namorar e manter uma relação.
Todos nós
desejamos tempo e dinheiro – Nossas ações estão intimamente ligadas a este
anseio, trabalhamos além do que gostaríamos, até estarmos extenuados, para um
dia aproveitarmos o conforto proporcionado com o que supostamente ganharemos
com o nosso trabalho. Logo, acabamos por nos tornar imediatistas, ambiciosos,
superficiais, mal humorados e “sem tempo”, na ânsia de aproveitar melhor nosso
tempo, não medimos esforços para conquistar mais bem-estar e, assim, gastamos mais
dinheiro do que deveríamos. Nessa equação o que conseguimos alcançar é uma vida
sem tempo e sem dinheiro, pois quanto menos tempo temos, mais gastamos, nesta
produção podemos destacar essa relação entre tempo e dinheiro, só que os
detentores do tempo, neste contexto, não vivem como deveriam, não aproveitam
seu “tempo”, temem, exploram e tornam-se infelizes.
Neste filme
podemos trabalhar com os conceitos de estratificação econômica e de certa forma
política, pois ao observarmos uma sociedade, inclusive a deste filme, podemos
concluir muitas vezes que os aspectos econômicos são muito mais importantes do
que os outros tipos na caracterização dessa sociedade. Sendo assim, quando um
indivíduo possuí um poder aquisitivo maior, fatalmente sua posição de poder
será valorizada, ele ocupará os melhores cargos e sua profissão será também
mais valorizada dentro da sociedade, verificamos dessa forma, a desigualdade social. No filme “o preço
do amanhã”, isso é evidenciado, embora se trate de uma história de ficção
vários elementos contidos nela assemelham-se propositalmente a nossa sociedade,
no filme tudo gira em torno do tempo, tempo que temos para trabalhar, comer,
andar, a moeda corrente é o tempo. Nesse mundo tempo é dinheiro. Mas isso seria
uma característica dessa sociedade fictícia apenas?
Ora, claro que não
possuímos um relógio, ou contador em nossos pulsos, e que não trabalhamos para
ganhar tempo, não recebemos em horas ou minutos, mas podemos relacionar as
dificuldades enfrentadas por esses indivíduos nessa sociedade com as que
enfrentamos na nossa, uma ligação telefônica, por exemplo, nos é cobrada de
acordo com o tempo que levamos telefonando, certo? Um professor recebe o
equivalente a hora/aula trabalhadas, não é verdade? Bem como vários outros
trabalhadores. De uma forma ou de outra somos reféns do tempo... Pagar
um milhão de reais mensais a um jogador de futebol e dividir esse valor
pelo salário mínimo nacional significa pagar o equivalente a 1.607,72
salários que a maioria dos brasileiros ganha por seu trabalho, R$ 622,00 a este
jogador e quanto tempo de suas vidas cada um deles “gasta” trabalhando? O
salário mínimo em nosso pais é calculado por horas trabalho certo? Se estimularmos um
debate acerca disso em sala de aula acredito que será muito produtivo, pois se
pararmos para analisar nosso cotidiano, verificaremos que muito embora nossa
moeda não seja o tempo, moradores e moradoras de bairros distantes dos grandes
centros nervosos não possuem muito tempo para despender, em sua grande maioria
saem de casa antes do sol nascer e regressam tarde da noite, não possuindo
tempo para conversar com sua família, divertir-se, descansar adequadamente
etc., muitas vezes sem tempo de cuidar da própria saúde.
No mundo de Will
um café custa alguns minutos, ligações telefônicas, refeições, diárias em
hotéis, enfim tudo custa tempo, que é descontado por uma espécie de máquina de
débito onde as pessoas colocam seus pulsos para serem descontados, ou receberem
créditos. Os valores impressionam, 1 ano de vida é igual a uma noite em uma
suíte de
um hotel luxuoso; 59 anos equivalem a um carro importado e se calculássemos
quanto teremos que trabalhar (horas/meses/anos), de acordo com nossa profissão,
para adquirirmos algum bem que desejamos?. A exploração do capital pelo
trabalho fica clara nesta produção, a acumulação da mais valia, do que deveria
ser pago de forma justa pelo trabalho semiescravo do trabalhador.
O filme também é
riquíssimo para realização de debates em aulas de filosofia, podendo suscitar a
reflexão, o questionamento acerca de questões como liberdade, imediatismo, o próprio
tempo etc.
Em se
tratando de mobilidade, podemos observar que não é algo ordinário e aceitável
nessa sociedade de “o preço do amanhã”, como em nossa sociedade capitalista,
que embora seja difícil conseguir “passar” de uma classe social a outra, temos
essa possibilidade, afinal, como dizem por aí, em nossa sociedade “ O sol nasce
para todos” assim que Will ultrapassa as fronteiras que dividem o “mundo dos
ricos” do mundo dos pobres os “guardiões do tempo” que seriam o correspondente
aos nossos policias são avisados que alguém não autorizado e não pertencente
aquele núcleo social transpôs suas “protegidas” fronteiras , além disso não
aceitam o fato de Will ter recebido uma grande quantidade de “tempo” de um
homem centenário cansado da hipocrisia, ganância, demagogia, enfim dos males
existentes nessa sociedade, e o incriminam pelo “roubo do tempo” e pela sua
morte. Curiosamente, ou não, Will sente-se atraído pela filha de um homem que
possui mais de um milhão de anos, um milionário e ela corresponde, a moça,
cansada de temer, cansada de viver na “gaiola” encanta-se com a vontade de
viver, com perseverança e com a esperança de Will, e ao conhecer o gueto de
onde Will veio, e a população local une-se a ele contra seu pai e os dois
juntos empreendem uma missão no melhor estilo de Robin Wood pós-moderno, roubam
tempo e distribuem nas chamadas “filas do tempo” que seriam correspondentes aos
nossos abrigos, restaurantes populares dentre outros centros sociais e ações
que visam atenuar a fome e o sofrimento de milhares, seguem o filme fugindo ,
roubando e distribuindo tempo, conseguem roubar um milhão de anos do pai da
moça e distribuem pelas “filas” ocasionando um verdadeiro “caos” na ordem
vigente, invertendo a hierarquia, a segregação e as fronteiras estabelecidas.
E assim podemos concluir que tanto na sociedade em
que Will vive e a nossa, a classe dominante tem mais oportunidades de fazer sua
história como deseja, pois tem o poder econômico e político nas mãos, ao
contrário da classe proletária que, por causa da estrutura social, está
desprovida de meios para tal transformação. Podemos também pensar em
“segregação socioespacial” ao assistir “o preço do amanhã” devido a existência
de fronteiras e níveis neste “universo”, indicando que a cada nível existe um
população correspondente vivendo ali, de acordo com o seu poder, com o seu
status, prestígio e com a quantidade de “tempo” que possuem.
Tanto na sociedade quanto nos indivíduos, o que importa é como se dá a
distribuição dos bens. Em uma sociedade industrial urbanizada, a distribuição
dos bens se dá de acordo com a posição ou status do indivíduo, sobretudo se ele
possuí uma profissão que lhe garante algum status. A sociedade possuí diversos
estratos organizados hierarquicamente conforme o poder, propriedades, valorização
e satisfação psicológica, também podemos falar sobre isso baseando-nos no
referido filme.
Enfim, é importante despirmo-nos dos preconceitos relacionados a esse
tipo de produção, pois podem nos ser muito úteis, “O preço do amanhã” é uma
valiosa aquisição no acervo de qualquer professor que busque suscitar a
reflexão e o debate em sala aula acerca dessas questões tão urgentes em nossa
sociedade, vale a pena compartilhar, vale a pena assistir e usufruir o que essa
produção hollywoodiana pode nos oferecer.
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